A Fenda Espreitei de novo pela fenda. Gente cansada Depois de uma longa viagem. A cidade estava sobrelotada, Há já alguns dias. Notei pela minha estalagem. O frio gelava-me não só os dedos, Mas também os pés E, aos poucos, o coração. Voltei a recolher-me para o fogo, Arder os medos, Evitar a confusão. Dois lutavam por um naco seco, As mulheres envolviam os pequenos Que pediam consolo sem razão. O lume crescia, E brandia cheio de vida. Já eram horas altas, Escasseava a comida E ainda nem se avistava a merenda. Bateram de novo na porta, De novo espreitei pela fenda. E o desespero, que me gritava num sussurro Que não cabia mais alma alguma! Mas espreitei, Um homem, e uma linda senhora Montando um burro Trazendo mais coisa alguma. “Está lotado, procure outro lado.” Mas suplicava, por favor, Fazia frio, e a senhora grávida. “Não queremos cama, apenas um lugar, Uma dádiva seja lá onde for.” Olhei a senhora, e então, Descongelou-se-me o coração. O seu véu esvoaçava E me levava o desespero e o