Um grande texto do jornalista Paulo Farinha, para ler e refletir:
"Enviar-te 35 mensagens durante o dia a dizer que te ama e a
perguntar onde estás não é uma prova de
amor. É uma prova de que ele é um controlador
e que, se tu deixas que ele o faça e não pões um travão a tempo, a coisa só vai
ter tendência para piorar ainda mais.
Fazer-te perguntas sobre dinheiro não é indício de estar
atento aos tempos difíceis em que vivemos, e reflexo de uma educação de
poupança. Falar muitas vezes disso indica, isso sim, que um dia ele vai querer
controlar o teu dinheiro. Aliás, se dependesse dele, era ele que geria já a tua
mesada. Quanto gastas. Quando gastas. Em que gastas. Quando deres por ti,
estarás a pedir-lhe autorização para comprar coisas para ti.
Pedir a password do teu e-mail ou da tua conta de Facebook
não é sinal de que vocês nada têm a esconder um do outro. Não é sinal de que,
entre vocês, tudo é um livro aberto. Mesmo que ele insista em dar-te a password
dele. Isso é um sinal de desconfiança permanente. E um passo grande para o fim
da tua privacidade. Sabes o que é privacidade, certo? É uma zona tua, onde mais
ninguém entra. A não ser que tu queiras.
Os comentários sobre a roupa que usas ou o novo corte de
cabelo não revelam um ciuminho saudável. Revelam que é ciumento. Ponto. Pouco
lhe importa se tu gostas daquele top, daqueles calções ou daquelas calças
apertadas. Entre os argumentos usados, talvez ele diga que já não precisas de
te vestir assim, porque isso atrai a atenção de outros rapazes e tu já tens
namorado. Se não fores capaz de lhe dizer, na altura, que te vestes assim
porque te apetece, não para lhe agradar, pensa que este é o mesmo princípio que
leva muitas sociedades a obrigar as mulheres a usar burka... Não é
exagero. Controlar o que tu vestes é exatamente a mesma coisa.
Perguntar-te a toda a hora quem é que te telefonou ou ver o
teu telemóvel, à procura das chamadas feitas e atendidas e das mensagens
enviadas e recebidas não é um reflexo de pequeno ciúme. É um sinal de grande
insegurança. Faças tu o que fizeres, dês tu as provas de amor que deres (na tua
idade, o amor ainda tem muito para rolar, mas tu perceberás isso com o tempo),
ele sentirá sempre que é pouco. E vai querer mais, e mais. E tu terás cada vez
menos e menos.
Apertar-te o braço com mais força num dia em que se
chatearam e lhe passou qualquer coisa má pela cabeça não é um caso isolado e
uma coisa que devas minimizar porque ele estava nervoso. Aconteceu daquela vez
e é muito, muito, muito provável que volte a acontecer. Um dia ele estará mais
nervoso. E a marca no teu braço será maior. E mesmo que ele «nunca tenha
encostado um dedo» em ti, a violência psicológica pode ser tão ou mais grave do
que a física.
Gostar de ti mas não gostar de estar com os teus amigos não
é amor. É controlo. E é errado. O isolamento social é terrível. Continuar a
telefonar-te insistentemente depois de tu teres dito que queres acabar a
relação, ou encher-te o telemóvel com mensagens a pregar o amor eterno, não
significa que ele esteja a sofrer muito. Significa, sim, uma frustração em
lidar com a rejeição. E se pensares em voltar para ele, pensa que da próxima
vez que isso acontecer ele vai telefonar-te mais vezes. E enviar-te mais
mensagens.
Guardares estas coisas para ti não é um sintoma da tua
timidez. Não quer dizer que sejas reservada. É uma estratégia de defesa tua. E
um pouco de vergonha, à mistura, não é? E que tal partilhares isso? Ficarias
espantada com a quantidade de amigas tuas que passam por situações semelhantes."
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