No passado sábado, dia 9 de novembro de 2019 comemorou-se, a
nível europeu, os 30 anos da Queda do Muro de Berlim.
Na nossa escola, esta efeméride foi comemorada no dia
anterior, com a destruição simbólica de um muro que, parcialmente, mimetizava o
original.
Esta atividade, a que muitos alunos e respetivos professores
assistiram durou pouco menos de duas horas, mas a atividade foi sendo preparada
nos “bastidores” ao longo de quase dois meses, com muitos tempos livres (e
alguns letivos) ocupados a planificar, cortar, colar, pintar e aparafusar os
materiais e as ideias que nos conduziram resultado final.
E também destruímos. Destruímos tempo em ideias que foram depois
abandonadas, pois não satisfaziam os nossos critérios.
E sobretudo, destruímos em poucos minutos aquilo que levou
dias e dias a preparar. Mas fizemo-lo com prazer, tendo em conta o significado
da destruição do muro original para a Europa, para o mundo e, fundamentalmente,
para as pessoas que sofreram e desesperaram devido à sua existência, algumas
delas (quase 200, segundo números oficiais) pagando com a própria vida a sua
ânsia de liberdade.
Essas pessoas e os seus dramas tornaram-se um pouco mais nossos
conhecidos por vermos os seus rostos nas portas e nos quadros das salas de aula
da nossa escola, assim como os avisos e proibições que faziam parte do seu
quotidiano, pressupondo sempre ameaças de morte (em alemão, em inglês, em
francês, em russo…) em vários pontos do recinto escolar.
Simultaneamente, um grupo de alunos, sob orientação de alguns
dos seus professores, recolheu informações sobre as dificuldades de
movimentação de pessoas (em turismo, em trabalho ou mesmo para simplesmente
comprar caramelos): as autorizações, os controlos, as barreiras físicas e a
pressão psicológica que enfrentavam… coisas que nos parecem tão distantes no
tempo e, contudo, tão próximas de muitas das pessoas que nós conhecemos.
Estes trabalhos, em exposição no espaço da nossa biblioteca
escolar, são acompanhados por outros, que nos lembram que, apesar de termos a
ideia de vivermos num mundo mais livre do que outrora, os muros têm vindo a
multiplicar-se cada vez mais e mais depressa. Não apenas os muros físicos –
exteriores – mas também os muros
psicológicos – interiores.
Lembram-nos também que é mais fácil construir um muro que, à
partida, nos separe de tudo e isole de tudo aquilo que nos causa estranheza, do
que tentar compreender o que é diferente. E, naturalmente, falo de pessoas,
pois os muros procuram, intencionalmente ou não, separar pessoas.
Na nossa atividade procurámos juntar pessoas, todas contribuindo
para um objetivo comum: recordar-nos que “o essencial é invisível para os
olhos”, como escreveu Saint-Exupéry. Coisas simples, sempre presentes, de cuja
importância só damos conta quando nos faltam, especialmente pessoas, comida ou
liberdade.
Correu tudo na perfeição?
Não. Alguns imponderáveis, uns devido às nossas limitações,
outros independentes de nós, para isso contribuíram.
Talvez a comemoração do 35º aniversário da Queda do Muro de
Berlim seja perfeita, mas o mais importante é que não esqueçamos o seu
significado. Nunca.
De qualquer modo, pensamos ter conseguido provar a verdade de
uma das afirmações que alguém pintou no muro original:
“Muitas pessoas
simples, em muitos pequenos lugares, fazendo pequenos gestos, podem alterar o
mundo.”
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Basta querermos!
ps: Uma palavra final de apreço e agradecimento a todos
aqueles (alunos, professores e funcionários) que, de forma direta ou indireta,
contribuíram (cada um como foi possível) para tornar a efeméride possível e por
mostrarem que, apesar dos tempos e contratempos, ainda é podemos unir-nos em
torno de um objetivo comum.
Professor Ricardo Oliveira
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